Disciplina no esporte pode ser um aprendizado de vida
Por: Renato Miranda*
Fatos corriqueiros de indisciplina envolvendo jovens alunos e atletas levam professores e técnicos a questionarem se há algo errado em suas formações ou vocações. Noutro sentido, poderíamos perguntar: Esses fatos são contingências da atualidade? Independentemente do que seja pais, educadores e líderes sentem-se pressionados sem saber o que fazer.
Tanto pais, alunos universitários e profissionais do esporte quando me questionam a respeito, tento ser o mais objetivo possível, muito embora o assunto seja polêmico e complexo. Desse modo, minha abordagem é a tentativa de construir um ambiente favorável para a disciplina ser uma consequência natural do comportamento dos jovens desportistas.
Como lidar com o comportamento indisciplinado?
Quando se aborda as possíveis atitudes a serem tomadas diante de um comportamento indisciplinado do jovem atleta, tais como: xingar e agredir companheiros, desobedecer a ordens do profissional que está na liderança da equipe, menosprezar horários preestabelecidos de treinos e competições, reagir de maneira agressiva quando é advertido e tantos outros comportamentos socialmente indesejáveis, caímos em um verdadeiro mar de polêmicas e discussões intermináveis.
Nesse cenário, me dedico à orientação de uma pressuposta inoculação do ambiente indisciplinado para que as atitudes acima não aconteçam e, por conseguinte, auxiliar na construção de um caráter disciplinado do futuro adulto, independentemente se o jovem seguirá a carreira ou não de atleta profissional. Portanto, meu esforço é criar pré-requisitos (diretrizes) para um bom nível de disciplina a partir do comportamento do líder (profissional do esporte: técnico, treinador, professor).
O comportamento do profissional do esporte é determinante para a construção de um ambiente favorável à disciplina e é nesse sentido que minha orientação está alicerçada nas diretrizes a seguir, que naturalmente estão interligadas e são interdependentes:
1ª) Conhecimento:
O profissional do esporte necessita buscar constantemente aumentar seu conhecimento a respeito de tudo aquilo que envolve seu campo de trabalho: o esporte em questão, metodologias, aspectos fisiológicos, filosóficos e psicológicos da faixa etária relativa aos desportistas e tudo o mais que pode acrescentar, influenciar e repercutir positivamente na vida dos mesmos.
O conhecimento explica as demais diretrizes de maneira significativa, pois é ele que permite criar consciência da responsabilidade e valor do trabalho esportivo que obviamente corresponde a qualquer nível de atuação, idade ou dimensão (profissional ou amadora atleta iniciante ou olímpico).
Repito, o profissional tem de investir maciçamente na sua formação intelectual e conhecer vários assuntos para cumprir seu papel. Vale lembrar que a nobreza do comportamento esportivo se baseia fundamentalmente no nível de informações, conhecimentos e experiências adquiridas desde a tenra idade.
Aquele profissional que detém o conhecimento daquilo que faz proporciona aos jovens uma possível percepção de que a cada dia de treino há uma grande possibilidade de se aprender algo realmente útil e positivo. No decorrer do tempo de relacionamento entre os jovens e o líder intelectualizado todos eles (os jovens) aprenderão que a liberdade que tanto desejam está definitivamente associada à disciplina.
2ª) Autoridade:
A autoridade exercida pelo profissional do esporte para jovens atletas é aquela baseada na experiência adquirida, marcada pelo conhecimento de qualidade. Autoridade não é mostrar e dizer quem manda, aliás, ter autoridade não é mandar, mas exemplificar através do comportamento e de vivências anteriores.
Aquele que tem conhecimento e o expressa em seu comportamento cria naturalmente uma autoridade que o permite transmitir valores educativos, morais, sociais e culturais. Além disso, o profissional do esporte com autoridade produz uma boa comunicação com o atleta que se solidifica no respeito mútuo a conduzir o jovem ao aprendizado do equilíbrio entre o esforço individual, o prazer pelo esporte e o sucesso.
Aquele que tem conhecimento e o expressa em seu comportamento cria naturalmente uma autoridade que o permite transmitir valores educativos, morais, sociais e culturais. Além disso, o profissional do esporte com autoridade produz uma boa comunicação com o atleta que se solidifica no respeito mútuo a conduzir o jovem ao aprendizado do equilíbrio entre o esforço individual, o prazer pelo esporte e o sucesso.
No esporte para jovens é oportuno ter um líder que saiba, quando do início de uma experiência qualquer, quais as possibilidades de acontecimentos futuros que poderão advir da mesma. Com isso o líder que detém essa autoridade sabe orientar, reorientar, modificar, interromper, reorganizar, etc. as atitudes dos jovens.
As frases a seguir ajudam a elucidar esse pensamento:
“Experimente fazer dessa maneira...”. “Tente mudar sua atitude, que tal ficar mais calmo...”. “Não está dando certo, vamos mudar o ritmo da tarefa...”. “Pare com essa brincadeira, isso acaba em lesão...”. “A partir de agora treinaremos mais jogos coletivos...”.
Nossa terceira diretriz é a importância da educação social do profissional. Disso, e muito mais, vamos tratar no próximo texto.
*Renato Miranda: Professor da Faculdade de Educação Física da UFJF; Secretário de Esporte e Lazer da Prefeitura de Juiz de Fora; Mestre e doutor em Psicologia do Esporte (UGF); Especialista em didática e psicologia do esporte na Alemanha (Escola Superior de Esporte Alemã - Colônia) e Rússia (Instituto de Cultura Física de Moscou); Consultor de atletas em psicofisiologia (concentração, estresse. motivação e flow-feeling); autor do livro "Construindo um Atleta Vencedor" editora Artmed; artigos publicados no site Vya Estelar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário