Bancada pela prefeitura, grama sintética ganha espaço
do terrão no futebol de várzea
Futebol de várzea é sinônimo de terrão. Mas em São
Paulo, essa realidade está mudando. Com um movimento liderado pelo poder
público, cada vez mais campos de terra batida estão ganhando grama sintética.
Um exemplo dessa escalada é a Copa Kaiser, principal torneio de futebol amador
de São Paulo. A competição, que envolve 384 times em duas divisões, usa 30
campos da cidade durante cerca de oito meses. Desses, 20% são de grama
sintética e o número ainda pode aumentar.
“Nosso campo ainda é terrão, mas isso vai mudar. Estamos
esperando a prefeitura aprovar a verba para colocar a grama sintética. Com
isso, o nível dos jogos melhora muito”, diz Francisco Prince Riveiro, o Kiko,
presidente do Ajax de Vila Rica, um dos times mais populares da Copa Kaiser.
O movimento é liderado pela prefeitura de São Paulo.
Segundo a Secretaria Municipal de Esportes, 36 campos já ganharam grama
artificial na cidade nos últimos meses. Para isso, transformam as instalações
em Clubes da Comunidade, que passam a ser geridos por três entidades diferentes
– 33 dos 36 gramados sintéticos usam esse formato. O CDC Cecília Meireles, na
Vila Maria, por exemplo, é administrado pela Escola de Samba Unidos da Vila
Maria, G.E. Lagoinha e Magnólia. Além das partidas de times amadores realizadas
no local, também é feito trabalho social, com aulas de futebol para a
comunidade da região.
O mesmo acontece no CDC Parque Dorotéia, na divisa
entre São Paulo e Diadema. É lá que o Pioneer, da Vila Guacuri, manda seus
jogos e administra um projeto social. Há 12 anos, reúnem as crianças do bairro
para ensinar o esporte. “Esse é o trabalho mais importante que fazemos. O
bairro não é fácil, para perder um menino para a violência, para o trafica, é
fácil. Com as escolinhas, conseguimos manter o menino na linha”, conta Sérgio
Eduardo, presidente do time.
Os benefícios da grama sintética são sentidos
principalmente na periferia. Como no caso do Pioneer, na maioria dos campos, a
reforma aproxima equipamentos públicos de lazer com a comunidade. O CDC
Dorotéia, por exemplo, foi construído entre uma creche e uma escola. Para os
jogadores, as chances de lesão por buracos no campo diminuem.
Em campo, o fenômeno da grama sintética é visto com
bons olhos. “As partidas ficam mais rápidas, o futebol mais bonito. Quem sabe
tocar na bola, não se atrapalha com buracos e morrinhos, como na terra. Mas é
claro que muita gente ainda se identifica com o terrão”, analisa Sebastião
Lucas de Almeida, o Tião, técnico do atual campeão da Copa Kaiser, Classe A.
A facilidade com que a bola rola, porém, também pode
ser ruim para os atletas. “É claro que o jogo fica mais bonito, você passa mais
fácil, mata qualquer bola. Mas quem começa a jogar na grama sintética pode
perder um pouco do poder de improviso que jogar em um campo ruim exige. Na
terra, a bola quica e você não sabe para onde ela vai, fica mais difícil de
fazer a matada. Quem está acostumado com isso, tira de letra quando chega no
sintético. Quem só joga em grama artificial, quando vai para o terrão não segura
uma bola”, alerta Vagnão, lateral-direito do Pioneer.
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